Intrigante… Fascinante… Tabu! A sexualidade humana remete às questões cotidianas sejam elas de cunho político, social e até econômico. A prostituição está longe de ser um comportamento moderno; atraindo ou balançando a veia moral da sociedade.
Escritores descrevem em seus relatos a prática de atos infames realizados por alguma remuneração. Na sociedade grega, apesar de escravas, as prostitutas tinham hierarquia e circulavam livremente pelas áreas nobres das cidades. Em Roma, sua atuação não escapava nem aos coletores de impostos, mas era regulamentada.
No Oriente, a História remonta eventos ligados à prostituição de forma ritualística. Assírios tinham o costume de oferecer suas filhas ainda jovens à essas praticas. O “Pai da História”, o grande Heródoto, descrevia a prostituição praticada nas instalações do templo de Ishtar, deusa babilônica, como repugnante.
Um grupo de historiadores não concorda com a visão dos cronistas antigos assimilando prostituição ao divino no passado. Há um movimento que tenta separar a prática sexual da religião para desmitificá-la. No Crescente Fértil, prostitutas já eram encontradas em busca do próprio sustento nas áreas urbanas.
Roma
Legalizada e bem regulamentada, desfrutar da prostituição era considerado aceitável, mesmo para os ricos (desde que praticada com moderação). Escravas e mulheres livres eram tratadas como “infames”; termo latino usado até hoje e com tom moralista. O status de infame significava privação dos direitos e proteções concedidos ao cidadão romano. Dançarinos e atores (apesar de admirados) compartilhavam a mesma posição.
Na Literatura, aparecem nos poemas de Catulo, Horácio, Ovídio, Marcial, Juvenal, bem como o Satíricon de Petronio. Em registros oficiais, o trabalho foi documentado nas disposições da Lei Romana, pela epigrafia da época e ilustrado nos graffitis; como os de Pompeia:
Mulheres livres gozavam de maior notoriedade. A maioria das prostitutas eram ou foram escravas. Por vezes, relacionadas a um “leno” (proxeneta), as cortesãs eram, comumente, vistas com roupas de seda chamativas. Atendiam aos mais ricos e ganhavam mais. Os escravos, por outro lado, eram apresentados nus na maior parte do tempo; expondo sua total falta de privacidade
Até que ponto essas atividades foram espontâneas, é difícil dizer! Donos de escravos tinham direitos sobre eles. O estupro, considerado crime, só era punido em caso de “danificação” do escravo, pois não tinham personalidade jurídica. Nesses casos, o dono é quem era indenizado pelas avarias de sua propriedade.
Até os escravos podiam ganhar dinheiro e comprar sua liberdade. Por vezes, o negociante de escravos impunha cláusulas impedindo-os ou a seus futuros proprietários de empregá-los na prostituição. Em caso de descumprimento, estariam libertos automaticamente.
Regulamentada, não por razões morais, mas econômicas, as prostitutas eram registradas pelo “edis” (magistrado responsável pela inspeção de bens e serviços públicos) que tomava seu nome verdadeiro, idade, local de nascimento e o pseudônimo que usaria. A “licença para a devassidão” (licentia stupri) era, então, outorgada, constatando também seu preço praticado. Uma vez registrada, não poderia ser removida dos livros nunca mais!
Loba
Bordéis eram comumente chamados de “lupanar” ou “lupanarium” e dessa expressão surgiu a palavra “lupa”, que significa “loba“. Usada como sinônimo de “prostituta” pelos romanos.
Descritos como sujos, de odor característico e pouco ventilados… Ah! E não esqueça da fumaça das lamparinas lembrada pela citação de Sêneca: “você ainda fede a fuligem do bordel”.
As licenças de funcionamento podiam ser de dois tipos: (1) para estabelecimentos geridos por um proxeneta (leno) e (2) os geridos por uma pessoa comum (não era incomum que fosse a mãe da prostituta). No primeiro caso, o proprietário mantinha um secretário, o villicus puellarum. Este gestor atribuía nomes, fixava preços, recebia os pagamentos; além de providenciar roupas, acessórios e outras necessidades às garotas.
Adornados de acordo com o objetivo, os “refúgios do prazer” tinham sobre as portas o “titulus” (uma tabela) que indicava o preço e a moça do cubículo. No verso da placa, se encontrava a palavra “occupata” (em serviço) e era virada durante o atendimento. Os cubículos eram equipados com uma lâmpada de barro ou bronze, cama fixa (de pedra) e um cobertor esparramado e que também poderia ser usado como cortina. A remuneração? Variava de 2 a 20 Asses; uma moedinha de bronze ou cobre e com valor relativamente baixo.
Se hoje são ruas e viadutos, antigamente, foram os “fornices” (origem da palavra “fornicação”), os arcos sob o circus, as áreas mais prováveis para se encontrarem prostitutas e potenciais. Tavernas, estalagens, alojamentos e até padarias também desempenhavam papel proeminente no submundo.
Vênus
Todo primeiro de abril, prestavam homenagens à Fortuna Virilis, no dia da Veneralia; festival em honra à Vênus. Cultuada exclusivamente pelas mulheres, acreditavam que a deusa pudesse esconder defeitos físicos dos olhos de seus amantes, protegendo-as da má sorte… Nessas celebrações todo tipo de mulheres apareciam pelo templo. As prostitutas eram comumente removidas do passeio por onde caminhava a sacerdotisa virgem para “purificar” a passagem.
Ainda em abril, no dia 27, era vez da Florália… Realizada em honra à deusa Flora. Começou em 238 a.C. e marcado pela realização de dança erótica e striptease de prostitutas.
Venus Ericina, deusa associada às prostitutas (Vênus de Erix), tinha suas homenagens prestadas no dia 23. Normalmente, em seu templo (erguido em 181 a.C.).
Desde a antiguidade, muito se perdeu, mas ainda são vastos os registros descobertos sobre a atividade. Fontes de todos os tipos (até na Bíblia) nos ajudam a compreender o lugar das profissionais do sexo na sociedade. Escravas, livres, em ocasiões ritualísticas ou como acompanhantes em festas luxuosas se infames ou não, ainda são procuradas por homens e mulheres em busca de todo tipo de prazer e diversão …
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